CONHEÇA SUA BÍBLIA
Rev.
Júlio Andrade Ferreira
Alderi
Souza de Matos
Após
prolongada enfermidade, faleceu em Campinas no dia 11 de outubro de 2001, aos
89 anos de idade, o Rev. Júlio Andrade Ferreira, um dos personagens mais
destacados da Igreja Presbiteriana do Brasil ao longo de boa parte do século
20. Destacou-se como ministro, professor de teologia no Seminário Presbiteriano
do Sul, autor de muitos livros e historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Júlio
A. Ferreira nasceu em Andradas, Minas Gerais, no dia 3 de setembro de 1912. Foi
o 10° filho (“o dízimo”) de Joaquim José Ferreira e Gabriela Ernestina Andrade
Ferreira, sendo batizado na Fazenda do Óleo em 24 de fevereiro de 1913. O
oficiante foi o Rev. Basílio Braga, pastor da Igreja de São João da Boa Vista,
Estado de São Paulo, que estava no primeiro ano do seu ministério. Júlio passou
a infância em São João da Boa Vista, onde fez o curso primário. Seu pai foi um
dos fundadores e presbítero da igreja presbiteriana local, organizada em 1889.
Joaquim José Ferreira professou a fé com o Rev. Miguel Gonçalves Torres e foi
braço direito do ilustre Rev. Álvaro Reis, mais tarde pastor da Igreja
Presbiteriana do Rio de Janeiro.
Em
1926, Júlio foi para Ribeirão Preto, onde cursou o Ginásio do Estado por cinco
anos, tendo obtido prêmios como o primeiro aluno da turma. No dia 26 de julho
do mesmo ano, foi recebido por profissão de fé pelo Rev. Robert Daffin na
pequenina congregação presbiteriana daquela cidade, fundada em março daquele
ano na casa do irmão de Júlio, João Andrade Ferreira. O adolescente fez parte
da segunda turma de professandos da futura Igreja Presbiteriana de Ribeirão
Preto. Em 1927, o jornalO Evangelista, editado pelo Rev. Alva Hardie,
publicou o primeiro artigo de Júlio, uma crônica sobre “Moisés, o Libertador”,
enviada àquele periódico por sua professora de Escola Dominical, Emília
Magalhães.
Em
1932, com exames suplementares de psicologia, pedagogia e didática na
conceituada Escola Normal da Praça da República (depois Instituto Caetano de
Campos), em São Paulo, Júlio obteve o diploma de normalista. A seguir,
ingressou na Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana do Brasil, em
Campinas, onde obteve em 1935 o grau de bacharel em teologia. Foram seus
colegas de turma Joaquim Alcântara, Adiron Ribeiro, Natanael Emerique, Jáder
Coelho, Mario Teles, Francisco Alves, Paulo Araújo e Valério Silva. Júlio foi
licenciado pelo antigo Presbitério de Minas em 1936 e ordenado no dia 17 de
janeiro de 1937. No dia 26 de janeiro de 1938, casou-se, em São João da Boa
Vista, com Alzira Helena Valim Ferreira.
Por
onze anos, exerceu o pastorado na cidade de Franca, em São Paulo. Ocupou a
cadeira de Sociologia da Escola Normal Livre, depois Escola Normal Oficial de
Franca. Em 1942, dirigiu pesquisa sociológica sobre a vida do garimpeiro, tendo
obtido apreciação positiva do sociólogo francês Paul Arbousse Bastide, então
professor da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, prestou concurso para
a cadeira de Sociologia, tendo sido aprovado pela banca constituída por Roger
Bastide, Fernando de Azevedo, Romano Barreto, Nelson Omegna e Raul Moraes. Foi
nomeado em caráter efetivo para a regência da cadeira em 11 de julho de 1944.
Em
1946, o Rev. Júlio foi escolhido pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana
do Brasil para ocupar a cadeira de Teologia Sistemática no Seminário Teológico
Presbiteriano de Campinas (ex-Faculdade de Teologia), e nesse cargo permaneceu
até 1966, tendo também exercido as funções de bibliotecário, administrador,
deão e reitor. No ano escolar 1952-1953, visitou nove países da Europa, tendo
também passado pela África, Ilhas Canárias e Ilha da Madeira. Fez curso de
especialização em teologia na Faculdade de Teologia Protestante da Universidade
de Estrasburgo, na França, e de sociologia religiosa no Instituto de Filosofia
da Faculdade de Letras da mesma universidade. Participou do Instituto Ecumênico
em Bossey, na Suíça, e do Congresso de Fé e Ação Reformada em Montpellier, na
França.
Nomeado
pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil como seu historiador
oficial, organizou o Arquivo Presbiteriano, hoje sediado em São Paulo, bem como
o Museu Presbiteriano, localizado no Seminário de Campinas. Redigiu a
importante obra História da Igreja Presbiteriana do Brasil, em dois
volumes publicados pela Casa Editora Presbiteriana em 1960 (2ª edição em 1992).
Anteriormente havia publicado duas obras biográficas, O Apóstolo de
Caldas (1950), sobre o Rev. Miguel G. Torres, e Galeria
Evangélica (1952), lançadas pela mesma editora. Publicou em 1959 um
estudo apologético intitulado Espiritismo: Uma Avaliação e em
1962 um estudo doutrinário, Conheça sua Bíblia. A continuação desse
estudo, Conheça sua Fé, saiu do prelo em 1967.
Na
cátedra de Sociologia, depois de servir em Institutos de Educação em Franca,
Rio Claro, Limeira, Americana, Santa Bárbara D’Oeste e Campinas, foi posto à
disposição do gabinete do secretário de educação para prestar serviços na
assessoria técnica do Conselho Estadual de Educação. Tornou-se chefe da mesma
assessoria até a ocasião em que se aposentou, em 5 de outubro de 1966.
Em
1959, foi um dos representantes da Igreja Presbiteriana do Brasil na Aliança
Presbiteriana Mundial, reunida em São Paulo. Desde 1961, data de sua fundação,
até o final de 1966, foi presidente da Associação de Seminários Teológicos
Evangélicos (ASTE). Essa associação promoveu, com o auxílio do Fundo para
Educação Teológica, dos Estados Unidos, um amplo programa de publicações, com
cerca de 25 obras lançadas em sua gestão, bem como um programa de intercâmbio
cultural, com mais de vinte bolsas de estudo para o exterior. Desde dezembro de
1965, data de sua fundação, até 1969, quando encerrou as atividades, foi
diretor de estudos do Instituto Evangélico de Pesquisas, mantido inicialmente
pela ASTE e pela Confederação Evangélica do Brasil, e depois um departamento
autônomo da ASTE.
Em
1967, de janeiro a agosto, o Rev. Júlio fez, em companhia da esposa, uma viagem
aos Estados Unidos. Sua principal permanência foi no Seminário Teológico de
Pittsburgh, na Pensilvânia, onde, entre outras disciplinas, cursou Fundamentos
Sociológicos, e sua esposa, Educação Cristã. Também fizeram um curso intensivo
no Centro para Treinamento Urbano, em Chicago, voltado para o ministério no
contexto urbano. Tomaram parte, em Nova York, na Conferência de Educação
Teológica promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e assistiram à
Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos da América,
em Portland, Oregon. Visitaram experimentos sobre novas formas de ministério em
São Francisco e outros locais. Também compareceram à Conferência Missionária
Mundial da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (Igreja do Sul), em
Montreat, na Carolina do Norte.
Ao
longo da sua carreira, o Rev. Júlio participou de inúmeros cursos e
conferências nos campos da teologia, sociologia e história. Quando pastor em
Franca, foi convidado pelo Rev. Miguel Rizzo Jr. para colaborar com o Instituto
de Cultura Religiosa, sendo um dos preletores do congresso reunido em 1940. Sua
palestra, sobre o tema “Os Mortos”, integrou os anais do referido congresso
(Teses). Outros eventos de que participou foram o I Congresso de História de
São Paulo e III Encontro Brasileiro sobre Introdução aos Estudos Históricos
(Campinas, 1972), VIII Congresso Interamericano de Filosofia (Brasília, 1972),
XXV Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (Rio de
Janeiro, 1973) e II Congresso Nacional da Bíblia, no qual foi preletor.
Licenciado em filosofia pela OMEC, de Mogi das Cruzes, e inscrito no Conselho
Federal de Educação em filosofia e sociologia, a partir de 1969 lecionou
filosofia da educação em faculdades de Piracicaba, Itu, Itatiba e Mogi-Mirim.
Foi
vasta a atividade literária do Rev. Júlio A. Ferreira. Em 1972 tornou-se membro
da Academia de Letras de São João da Boa Vista, terra de seus pais e da sua
infância, e em 1977 foi recebido como membro da Academia Campinense de Letras.
Além das obras já mencionadas, vale mencionar as seguintes: Relógio de
Jesus (1974), Profeta da Unidade, biografia de Erasmo
Braga (1975) e Apocalipse: Ontem e Hoje (1983), a
primeira de suas obras publicada pela organização Luz Para o Caminho (LPC). A
série continuou com Judeu - O Enigma da História, Bíblia -
Enigma da Literatura,Parábolas de Hoje, Caminhos
Inescrutáveis, O Tema de Deus, Que Sinais Haverá, O
Dízimo Cristão, Religião no Brasil e As Faces de
Adão. Há muitos originais inéditos sobre temas históricos, bíblicos e
teológicos em poder de Luz Para o Caminho, detentora dos direitos autorais.
Em
edições pequenas, custeadas por parentes e amigos, o Rev. Júlio publicou uma série
de livros históricos de famílias: Uma Herança e Dez Destinos (1979),
em colaboração com seu irmão Joaquim José Ferreira Filho, é a crônica da
família Ferreira; Uma Família se Reúne em Dezembro (1980)
conta a história da família Valim, à qual pertence a sua esposa. Através de Luz
Para o Caminho, publicou O Trio em Férias, recolhendo as graças dos
netos. Também foram numerosos os seus artigos em jornais e revistas como Brasil
Presbiteriano, Revista Teológica, Sacra Lux, Unitas e Ultimato, e suas palestras
radiofônicas.
O
Rev. Júlio era membro do Presbitério de Campinas (o antigo e histórico
Presbitério de Minas). Serviu desde 1968 no pastorado da Igreja Presbiteriana
de Campinas e posteriormente na Igreja Presbiteriana do Jardim Guanabara. Foi
jubilado em 1982, após 47 anos de serviço ativo. Nessa ocasião, foi declarado
pastor emérito da Igreja Presbiteriana do Jardim Guanabara; posteriormente,
também recebeu a mesma homenagem da Igreja Presbiteriana do Jardim Flamboyant.
Ainda em 1982, recebeu da Câmara Municipal de Campinas o título de Cidadão
Campineiro. No mesmo ano, viajou com a esposa ao Peru e Equador, a convite do
seu ex-aluno Rev. José Andrade C., fundador de “La Bíblia Dice”, congênere de
Luz Para o Caminho. Esse pastor traduziu para o espanhol o livro Conheça
sua Bíblia. Anos mais tarde, o casal Ferreira e um casal de parentes
visitaram a Europa e Israel, viagem essa descrita na crônica “Quarenta Dias”.
Em
1994, o Rev. Júlio foi declarado professor emérito da instituição à qual esteve
ligado por muitos anos, o Seminário Presbiteriano de Campinas. No dia 12 de
agosto de 1995, o casal Ferreira foi homenageado pela direção da Igreja
Presbiteriana do Brasil, em Brasília, em reconhecimento da longa folha de
serviços prestados à denominação. Escreveu para a ocasião um comovido texto de
agradecimento intitulado “Foi o Senhor que nos usou”. No dia 11 de novembro de
1999, por ocasião do jubileu da turma de 1949 do Seminário de Campinas, o Rev.
Júlio foi homenageado pela mesa da Comissão Executiva do Supremo Concílio com o
título inédito de “Historiador Emérito” da Igreja Presbiteriana do Brasil. Ele
foi o último sobrevivente da sua turma, a de 1935. Seu nome foi dado ao Museu
Presbiteriano, em Campinas, reinaugurado no dia 10 de agosto de 2006.
Além
da esposa Alzira Helena, o Rev. Júlio deixou os filhos Eder Valim Ferreira,
casado com Lourdes Tereza Franco Ferreira, Elson Valim Ferreira, casado com
Sylvia Martins Ferreira e Eliane Valim Ferreira de Souza, casada com Adilson
Oliveira de Souza, bem como os netos Gabriela, Manuela e Frederico, e a bisneta
Izabela. Duas irmãs de D. Alzira também são casadas com pastores
presbiterianos: Natividade com o Rev. Marcelino Pires de Carvalho e Azená com o
Rev. Odair Olivetti.
“Preciosa
é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Salmo 116.15).
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